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abril de 2016 | nº30
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Nuno Quelhas

O papel da gestão psicomotivacional

 

Há mais de uma década atrás, quando comecei a estudar e a trabalhar naquelas que eram, à altura, em Portugal, novas abordagens e técnicas quer de comunicação, quer de motivação e relacionamento interpessoal, o tema era um misto de tabú com paródia. Os meus amigos não percebiam sequer o que era o coaching, nem para que servia (muitos deles continuam a não perceber hoje!), e ficavam a olhar para mim como quem pensava 'olha-me este maluquinho...',quando lhes falava de PNL e rapport. O cúmulo era quando lhes falava de motivação e felicidade no local de trabalho. Aí, pura e simplesmente, riam-se de mim e diziam que isso nunca iria ter lugar numa empresa 'a sério' e que a motivação das pessoas era o dinheiro que lhes caía na conta, certinho, no final do mês. Como eu só tinha a Visão, e nenhum argumento racional ou 'provas por A+B', limitava-me a ficar calado e murmurar que o Tempo se encarregaria de mostrar quem tinha a razão.

 

Uma década de estudo, muito trabalho e uma combinação de resiliência, paciência e muita fé depois, já não é propriamente uma novidade que os fatores motivacionais são tópicos em cima da mesa e são das questões mais diferenciadoras, hoje, no mercado de trabalho, dada a sua influência no comportamento individual e coletivo.

O papel que a gestão psicomotivacional tem nas organizações é, provavelmente, o mais importante para a estabilidade que conduz ao sucesso de médio e longo prazo, hoje!

 

Não falo de gestão de recursos humanos. Falo de gestão de pessoas!

O que, na teoria, parece ser a mesma coisa porque, quando falamos de 'recursos humanos', à partida, queremos falar de 'pessoas', na verdade não é!

A gestão RH tem um papel muito importante, mas tornou-se impessoal e, em muitos casos, mesmo desumana. As pessoas transformaram-se lentamente em números e gráficos.

A recente crise que passámos teve um exemplo claríssimo e demonstrativo, quando o ex-Ministro das Finanças, Vitor Gaspar, usou como um dos argumentos para alguns dos desafios das operações, 'o facto de não ter sido considerado impacto motivacional da população às medidas implementadas'.

 

Como em todos os processos de mudança de consciência coletiva, vivemos um momento absolutamente paradoxal: por um lado, empresas, enormes, cada vez maiores, com sistemas que mais parecem espremedores de laranjas, que exploram tanto quanto podem os seus colaboradores, aproveitando um mercado deficitário, e tirando partido das necessidades básicas humanas e,por outro lado, pessoas que partem em busca dos seus sonhos e, consoante as circunstâncias de cada um, arriscam tudo para poderem fazer aquilo que gostam.

 

Num dos cenários, encontramos uma legião de pessoas robotizadas, sem vitalidade, motivação ou orgulho no seu trabalho. São controlados por câmaras, revistados à entrada e saída. Proibidos de sequer ter os telefones consigo. Coagidas a trabalhar horas extra, obrigadas a estar totalmente à disposição dos interesses da empresa, independentemente dos seus próprios pessoais. Têm de pedir autorização para ir à casa de banho e se tiverem uma consulta no médico ou no dentista, é um sarilho muito grande. Seguem a filosofia do 'não quero saber' (I don't care!) e, por isso, não sentem nada de positivo que as ligue à entidade empregadora e, em muitos casos, trocariam no mesmo instante em que aparecesse uma 'oportunidade' de valor monetário equivalente ou mesmo inferior, caso a perspetiva prometida fosse ligeiramente melhor. Em muitos casos a troca apenas serve para provar que a mudança não é assim tão grande, quando se muda 'por dinheiro'.

 

Sem entrar em detalhes confidenciais, conheço um caso em que um colaborador, prestes a ser pai pela primeira vez, foi 'convidado' a refletir se seria o melhor momento para gozar os seus dias de paternidade e que era uma excelente oportunidade para mostrar o quanto tinha a 'camisola vestida'. A pressão sobre as mulheres, então, é absurda!

 

No outro cenário, encontramos espaços de trabalho onde as pessoas se sentem motivadas, acolhidas, identificadas com o que fazem, parte-de-algo, mais do que o indivíduo, a soma dos indivíduos. Tornam-se pessoas alegres, realizadas, competentes, criativas e dedicadas. Aqui,

segue-se a filosofia do 'quero saber' (I care about). Não conheço ninguém que trabalhe por conta própria, em algo que acredite, que trabalhe 'menos' do que outra pessoa que trabalhe por conta de outrém. Bem pelo contrário! E não se trata necessariamente de número de horas, mas sim de produtividade e eficácia. Também não se trata necessariamente de ganhar mais dinheiro. Muitos ganham menos. Mas sentem-se mais realizados. Sentem que o seu trabalho tem um Propósito, uma Missão. A tal 'motivação e felicidade no trabalho'!

 

Onde entra a gestão psicomotivacional aqui...?

Na perceção que as pessoas não precisam de ser espremidas para serem produtivas. Têm de ter tempo e espaço e liberdade para serem criativas. Têm de se sentir queridas e bem tratadas, compreendidas e respeitadas, para devolver na mesma moeda. Têm de se identificar com o que fazem. Têm de olhar para a liderança e ver um exemplo a respeitar, não como um excelente exemplo de incoerência, incongruência e incompetência.

 

E como pode uma organização fazer isso?

Começando por escolher as peças certas para o lugar certo. Desculpe. As PESSOAS certas!

Conhecer as caraterísticas psicológicas e motivacionais dos indivíduos que compõem as equipas e a organização, perceber onde se complementam e onde chocam, quais são os seus talentos e habilidades naturais, em que funções podem ser mais úteis e mais eficazes para o grupo.

Investir tempo no lado da 'pessoa por trás do profissional', compreender as suas necessidades, os seus momentos, ânsias, medos, bloqueios e ajudá-los a superá-los, dentro do possível para a organização. Identificar as suas forças e potenciais e auxiliá-los a explorá-los, de forma a que se tornem melhores profissionais, colegas e líderes. No limite, auxiliá-los no processo de se tornarem melhores pessoas!

 

No processo de recrutamento, só conhecendo as caraterísticas psicomotivacionais pré-existentes na equipa, podemos escolher A PESSOA que melhor se vai inserir nessa equipa. Não o CV.

Enquanto consultor, os CVs não me dizem muito sobre 'a pessoa'. Quanto muito, dizem-me sobre as suas aprendizagens técnicas adquiridas. Nem sequer me diz se a pessoa sabe muito ou sabe

pouco sobre o(s) tópico(s). Apenas que frequentou um determinado curso e, supostamente, terá demonstrado conhecimento para passar no teste. Nada mais. Para além disso, todos sabemos

que 90% dos CV são... 'manipulados', digamos assim, logo, pouco críveis.

 

Para mim, bem mais importante do que o CV é o perfil psicológico da pessoa. Que Ser Humano vai entrar na minha empresa e de que forma a equipa vai receber essa pessoa e como ela se vai incluir no grupo? Que impacto terá isso no resultado final do trabalho? Na eficácia, produtividade e no bem-estar da equipa? Já vi equipas a serem 'destruídas' com a entrada do 'CV errado', assim como já vi equipas fragmentadas, a se unirem após a inclusão da 'pessoa certa'.

 

Uma das ferramentas que eu uso, no processo de recrutamento e seleção de pessoas para uma organização, é a AstroPsicologia. Há outras, também eficazes. A grande força de qualquer ferramenta reside em quem a usa.

Qualquer que seja a ferramenta que use, na sua organização, use uma que lhe permita conhecer e acompanhar A PESSOA por trás do profissional. Porque, quando nos sentimos valorizados e respeitados e compreendidos, suportamos muito mais, trabalhamos muito mais, dedicamo-nos muito mais e 'queremos saber' (we care about)!

É o verdadeiro 'win-win-win situation', porque ganha a pessoa, ganha a organização e, no fim, o cliente tem um produto ou um serviço muito melhor, logo sai a ganhar também.

 

Nuno Quelhas

Formador Externo QualiWork

 

O Nuno Quelhas detém elevada experiência com sucesso como formador em técnicas de Coaching, desenvolvimento pessoal, PNL, Liderança e Gestão Empresarial em diversas Organizações em Portugal e no estrangeiro.



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